terça-feira, 19 de junho de 2012

É tão gentil e honesto o ar
Da minha menina,
Da minha donzela,
Que sozinha à janela,
Em tardes fagueiras,
O mar vai olhar.

Doce menina
Que sozinha vai andar,
A beira do mar,
Em ondas bravias,
Em águas sombrias,
O que estás a pensar?

Doce menina
De doce amar,
Que brinca na areia,
Que brinca no mar,
Não corras assim,
Menina, onde vais?
Tens pena de mim!

Doce menina
Que na areia deitou,
Que a aura tranqüila
Os cabelos soltou,
Que os olhos castanhos
Em instantes fechou,
Acaso, pensavas em mim?

Menina querida,
De doce amar,
De beleza vistosa,
Que estás a sonhar,
Não me deixes assim,
Sozinho a vagar,
Espera por mim!

Autor: Luiz Guilherme Schinzel


Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que f noutras esferas,
Parece-me que f numa outra vida...

E a minha boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

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