Sou passarinho ferido,
Do ninho caído.
Sem poder voar,
Sou tempestade ou borrasca.
Sou história, velha e gasta,
Que alguém deixou de contar.
Sou barco que naufraga,
Que a tempestade apanhou.
Sou comando no leme,
Sou sonho nunca sonhado.
Na alma imortalizado,
Que de dor e saudade geme.
Sou nuvem que o vento leva,
Sou crepúsculo, sou a treva.
Raio desprendido do trovão,
Sou alvorada que desponta.
Quando o sol toma conta,
Deste triste coração.
Na agonia da saudade,
Todo é demasiado tarde.
Para ser o que quer que seja,
Sou sino que tange as ave-marias.
Ecoando em paisagens bravias,
Na torre da velha igreja.
Anoitece minha vida,
Eu sou alma ferida.
Vagueando alheada,
Sou resto de um passado.
Quase todo ele enterrado,
Sou tudo e não sou nada.
Lá longe um dia ficou,
A inocência que passou.
Deixando vazio sem fim,
Sou dor e sou tragedia.
Sou romance,
Eu sou comédia!
Sou o que fizeram de mim.
"Bonifácio Rei"