"Entre os ventos do sul como do norte /lá vou eu,
lá vais tu ,lá vamos nós/Dor não existe que não se
suporte/e estamos sós terrivelmente sós..."
ALPHNSUS DE GUIMARAENS FILHO(1918-2008),POETA MINEIRO
Para ele a musa vinha como um risco, um raio lampejo em forma de sedução. Chegou inusitada, inesperada, desesperada, etérea como o perfume evolado à sua passagem. Despertava nele sensações não antes experimentadas, porém faziam-no sofrer, rompendo seu silêncio e expondo-se, vendo-se por dentro, refletindo sobre si mesmo, abrindo frestas nas trevas indecifráveis de sua individualidade. Como se apresentasse num reflexo, conhecendo-se, assustando-se com o que via e sentia.
Ela viera como uma intrusa, o invadira na sutileza de um perfume, na calçada feito passarela, como um meteoro fora de órbita, apossando de sua alma, de forma arrasadora, conquistando espaços onde existia apenas ele. E o encontrava desprevenido, indisponível para alguém, em briga íntima, iluminando sua escuridão pessoal. Já era o centro de sua atenção, cedendo, permitindo-se, obediente e prazeroso, aparecendo dançando desconexa, estranha, bailando nos sonhos em sentimentos confusos.
Ignorava gostar, até desdenhava dos que afirmavam amar, tido como fantasia, melindres dos fracos. Mas via-se desconhecendo, revirado em seus conceitos e certezas, sentido a ausência dela, saudades, querências...
Não queria assumir os sintomas, as emoções, bem e mal lhe faziam, reviravoltas, algo perigoso, ousado, o novo trazendo desafios e descobertas, o pondo desnudo.
Experimentava do bem que o gostar apraz, das dores que o amar traz. O ônibus chegava ao seu destino, a despedida muda, ardendo em chamas intestinas, sofrendo secretos martírios, pela amada que sequer suspeitava de suas intenções...
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