O jardim, a flor e o colibri |
Havia um paraíso de jardim, onde toda manhã se abriam flores e rosas, espargindo um doce e suave perfume em aragem blandiciosa. As cores, matizes graciosas, enchiam as retinas dos visitantes e a luz solar banhava, em jorros de energia e brilho, a paisagem em reflexos divinais, como bênçãos às criaturas em peregrinação terrena. Os pássaros e as borboletas completavam aquele colorido inolvidável, adicionando graça, leveza e movimento à bucólica paisagem. Certo dia, um colibri, afetado pelo veneno da maledicência de uma flor impudica de outras plagas, fez-se inquilino do aprazível recanto. Conduzia consigo, a envolvê-lo, a fuligem asquerosa da desesperança e do desentendimento. E, ao beijar a flor em permuta do alimento pela perpetuação da vida vegetal, destilou toda a peçonha na infeliz que logo emurcheceu e morreu, desvitalizou-se e despencou sem vida e feia, esquálida e despetalada, no solo verde em vida. Soprada pelos ventos da intemperança e do descompromisso, da maledicência e da maldade, espalhou-se de pronto a sórdida substância de tal maneira que, em breve tempo, todo o jardim respirava e assimilava a nuvem negra do ressentimento e da mágoa, do descontentamento e da frialdade, do destempero e da revolta. O jardim modificou-se em inferno... Tornou-se estéril e seco... O viço antes ali presente e pleno, a denotar vida e harmonia, desapareceu, esmaecido pelo pranto e pela agonia... Foi preciso esperar longamente pela tempestade, que devastou por completo o jardim e removeu as raízes carunchadas, para que se extinguisse o terrível veneno, ao sabor da força incontida da natureza. Somente após a destrutiva ação da tempestade, reorganizaram-se a vida e a graça, a paz e o equilíbrio naquele jardim. Por causa de um momento de intempestiva ação e de incontida irresponsabilidade na palavra, fazem-se noite e sombra que, bastas vezes, só têm fim com o rugir das vagas tempestuosas da expiação. CARLILE LEONI |
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
texto editora eme
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