terça-feira, 29 de novembro de 2011

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Quando não posso ouvir...

Desagrada-me não poder ouvir a outrem, não o compreender, se é apenas uma deficiência de compreensão, uma falta de atenção ao que me está sendo dito, ou certa dificuldade de entender as palavras,, então não me sinto mais que um ligeiro descontentamento comigo mesmo.
Mas o que realmente desgosto comigo é não poder escutar outra pessoa porque já estou, de antemão, tão certo do que ela vai me dizer que não lhe dou ouvido, só posteriormente verifico não ter prestado atenção senão ao que já decidira que ela ia me dizer. Na verdade, deixei de ouvir, pior que isso, são as vezes em que não posso escutar uma pessoa porque o que está sendo dito constitui uma ameaça para mim, com risco até de mudar minhas opiniões ou o meu comportamento. Ou, pior ainda, quando me descubro a tentar distorcer sua imagem, a fim de fazê-la dizer o que eu quero que diga, só escutando isso.
Coisa um tanto sutil, e é surpreendente a habilidade que tenho quando faço isso. Exatamente por deformar um pouco suas palavras, por distorcer, um mínimo o que ela pretende significar, posso tornar evidente que não só ela diz o que eu queria ouvir, mas se mostra a pessoa que eu quero que ela seja, e só quando verifico, através do seu protesto ou do meu gradual reconhecimento de que estou a manipulá-la, sutilmente, que fico desgostoso de mim próprio. Sei também por haver estado do outro lado, o quanto é decepcionante ser tido por aquilo que não é, ser ouvido como se estivesse a dizer o que não se disse ou não se pretendeu significar. Preciso me desvincular do meu juízo de valor para, ter liberdade para aprender.
FONTE: Carl Rogers – Liberdade para aprender

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